Por Éric Machado, CEO da Revna Fale Conosco
A aprovação da reforma tributária no Brasil representa um marco histórico. Seu objetivo é simplificar um dos sistemas fiscais mais complexos e disfuncionais do mundo — um cenário em que, segundo o Banco Mundial, empresas brasileiras gastam em média 1.501 horas por ano apenas para cumprir obrigações tributárias, contra apenas 159 horas nos países da OCDE. No entanto, apesar da nobreza desse objetivo, o caminho até a simplificação esbarra em um desafio técnico pouco visível para muitos executivos: a necessidade urgente de adaptar os sistemas internos ao novo modelo de documentação fiscal, como o layout da Nota Fiscal eletrônica (NF-e). É justamente nessa transição que reside o maior risco.
A partir de 1º de janeiro de 2026, entra em vigor o novo regime tributário brasileiro, com a implementação do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). Com ele, as empresas terão de adotar novos layouts de documentos fiscais, ainda em fase de definição técnica. Isso exigirá a reconfiguração de sistemas ERP como SAP, Oracle e Totvs, a revisão de processos internos e testes rigorosos de integração com as Secretarias de Fazenda. Sem essa preparação, o risco é claro: empresas podem ficar impedidas de emitir notas fiscais — e, consequentemente, de faturar. Mesmo diante desse cenário crítico, a mobilização ainda é tímida. Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que 67% das empresas sequer iniciaram o planejamento técnico necessário para a transição. Em um processo que exige tempo, investimento e coordenação, essa inércia é preocupante.
A reforma é positiva, mas exige responsabilidade imediata. A emissão de nota fiscal é a espinha dorsal do faturamento. Se os sistemas não estiverem atualizados, a operação para. E não se trata apenas de uma questão técnica: é uma ameaça à continuidade do negócio. Uma empresa com milhões em estoque e nenhum sistema compatível com o novo padrão fiscal entrará no ano de 2026 sem capacidade de gerar receita. Faturamento parado é receita zero. Isso impacta fornecedores, clientes, folha de pagamento, obrigações financeiras e reputação no mercado. É uma cadeia de colapso silenciosa, mas real.
A solução começa com planejamento agora. Empresas precisam mobilizar times de tecnologia e fiscal, acionar seus fornecedores de ERP e iniciar projetos de adaptação imediata. É também uma oportunidade de modernização: adotar soluções em nuvem, APIs integradas e ferramentas de automação fiscal que garantirão não apenas conformidade, mas eficiência e escalabilidade. O Brasil está diante de uma virada digital tributária. Quem se antecipar, transformará um risco em vantagem competitiva. Quem ignorar, corre o risco de começar 2026 com o faturamento travado, e o negócio ameaçado.
Até a próxima,
*Éric Machado é CEO, especializado em gestão de Tecnologia da Informação (TI) e Supply Chain. Com quase 30 anos de experiência e conhecido por ser um dos primeiros consultores de Oracle EBS e Supply Chain do Brasil, além de já ter atuado em grandes companhias como General Eletric (GE), Xerox, Yamaha, Toyota, Globo, Epson, IBM, Deloitte, LATAM, Cummins e Meritor.
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